Alexandria - Se Tu Queres Sarar a Solidão...

Do Elogio da Morte ao Requiem do Abandono, Alexandria é a Biblioteca das Ruínas de cada Eu fragmentado, da insustentável esquizofrenia do Mundo...

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Imagine Alexander, before conquering half the world: A man full of dreams and handful of sand. Well, that's me...

Thursday, May 31, 2007

As Górgonas

O Destino, a Obrigação e o Pecado são três mentiras do manual das bruxas. Eu não sou supersticioso. (Lisboa, 07/06/96)

Wednesday, May 30, 2007

Ícaro:

Vives na sombra do Sol porque o teu espírito é sórdido e obscuro. Vives de acordo contigo, prolongas a noite pelos dias, andas sob um manto de treva, rezas ao Feiticeiro do Abismo para que te ouça as preces de vingança. O Sol queimou-te as asas com que quiseste um dia destroná-lo e tu tens pesadelos com a queda e julgas-te Lúcifer zangando-se com Deus. Um dia, dizes (nessas noites de insónia e de delírio), o Sol há-de morrer no seu eclipse; e então, pensas, serás livre. Mas tu não sabes, Ícaro, que livre, é provar o longo beijo da Morte. Só o toque amargo dos seus lábios te pode dar a Liberdade Suprema. (Lisboa, 06/06/96)

Tuesday, May 29, 2007

Da Patologia ao Saber - De Zero a 1000

A necessidade aguça o engenho. É a estranheza que apela à procura. É a doença que move a evolução; sem o unheimliche o desafio perde-se e o homem estagna como um paúl esquecido num campo por onde já ninguém passe e tudo esteja seco e infértil e malsão. Os grandes psicólogos do século dezanove, que ainda não eram psicólogos, concentraram na estranheza o conhecimento de si. Como se um bicho exterior estivesse no interior e o bicho exterior que somos não o reconhecesse. Num homem vivem dois monstros que se estranham e esperam por ser apresentados. A guerra dá-se por o organismo ser simplesmente o organismo, sem regras de civilização e etiqueta. E é assim que está bem. Não se queira mais do que o que se pode ter. Isto é: Queira-se tudo. Seja-se doente por inteiro, alienígena de si mesmo e do mundo, estranho numa terra estranha como se Marte fosse isto que somos e onde estamos e não houvesse ninguém, não pessoas, mas coisas com vida, coisas que mexessem como objectos pensantes movidos a artes mágicas. O meu braço a separar-se-me do corpo e a dançar nos salões do vice-rei! Ah, Sá-Carneiro, ah, modernista!, Ah descobertas na invenção de mim! Adoentei-me por querer ir para além de tudo. Se a vida é uma miséria, para quê chorá-la? Se o irremediável é já o irremediável, para quê querer remediá-lo? Se é a degradação que me toca, se é ela que importa em tudo, para quê querer negar a importância que tem? Há desgraça no mundo e ela, por destino, pertence-me? Matar-me com três tiros de pistola num banco de jardim? Com veneno num quarto de hotel estrangeiro à espera que o meu pai me pague o funeral? Ir de burro ajaezado à andaluza subir ao raio de Júpiter, ao martelo de Thor ou descer ao Hades? Ser furioso incontrolado das sensações profundas? Para quê? O suicídio é a cura de todos os males... Que cura? O suicídio é o sofismo ontológico. A falácia das potencialidades de ser. O erro de cálculo matemático em que, por batota, por fraude, por comezinha mesquinhez, o contabilista quotidiano se chega à Inspecção Tributária da Biologia Viva que sou eu e declara: Se eu apagar estes zeros, e estes números demasiadamente redondos, se eu puser aqui mais um traço como quem veste um casaco num dia frio, quem vai notar? Quem vai dizer que existiu um problema? Tudo é perfeito. Tudo é harmonia. Nada sonda o mistério: o problema é a própria solução... Simplificar é evoluir. Está desfeito o Enigma. Estou aqui e respiro. Está feita a prova. Faltou-me, criei. Está curada a doença. Da patologia evoluí para o saber. Do Zero que era fiz-me Tudo.
(Lisboa, 05/06/96)

Saturday, May 26, 2007

Rousseau Revisitado


O Homem nasce livre; é a Sociedade quem faz os seus grilhões. Toda a liberdade se resume ao cárcere perante a existência de um outro. A liberdade é por isso a maior Solidão. (Lisboa, 04/06/96)

Sir Pain - Princípio de Uma Balada

Seremos sempre como velhos cruzados, perseguindo Graais, mas sem dignidade, sem honra, sem coragem. Porque o egoismo que nos move nos perde entre o desejo e a procura. Temos sede, temos fome, temos sono; e não achamos mais do que dragões que esventramos e caiem mortos para tomar porfim a nossa forma. Um dia um deles há-de reerguer-se e há-de arrancar-nos os membros, e há-de tolher-nos o crânio breve e inútil. A nossa morte há-de ser o que vivemos porque assim é toda a morte. Mas foi um devaneio o que vivemos… Pode haver fim mais inglório? Pouca sorte, pouca sorte... (Lisboa, 03/06/96)

Puzzle

Que somos senão estranhos, até para nós mesmos, células que evoluem no louco ciclo dos astros, fragmentos de um todo que é fragmento de um todo que é fragmento de um todo que é fragmento de um fragmento maior…? Destruimos tudo pela resposta que nos justifique, negando em furores que a verdade do Mundo é que estamos cansados de nós próprios... (Lisboa, 02/06/96)

Chingiznama - O Síndroma de Gengis Khan


De onde tiras, guerreiro, essa energia absurda para a luta? Cansar-te-à assim tanto estares em paz?
(Lisboa, 12/06/95)

Olá, meu Gedeão!

Ainda persigo o sonho: O sonho comanda a vida. Ainda me descomponho: O sonho não tem saída… (Lisboa, 11/05/95)

Vingança do Homem Só


Sempre me foi negado o amor. Sempre. Por isso odeio intensa e eternamente…
(Lisboa, 19/04/95)

Friday, May 25, 2007

Notas de Um Escritor Subterrâneo

Alguns remendos, notas, simplesmente. Nada mais me interessa. Excertos de uma vida incoerente. Promessas, promessas…Nostalgias, silêncios, desalentos: onde estais, onde estou? Nuvens, nuvens, bom tempo, mau tempo; onde vais, onde vou? Coisas que matam, que moem, marcam, mudam. Coisas que nos deixam insensíveis: Eis este livro de textos que perturbam; Eis as minhas prisões intransponíveis…
(Lisboa, 10/03/95)

Saturday, May 05, 2007

Diário do Maquinista de Combóios

É um vazio o meu ser. Ando fora de tempo como um combóio fora dos carris: Além perdi a Gare, aqui perdi a Estação. De Entroncamento a Estarreja, e eu não vejo ninguém, nem há ninguém que me veja! Dia e noite junto ao forno que não tenho a lançar às chamas o carvão... Tanto que ardeu na imaginação! Pouca-terra, já lá vem mais um furgão... Pouca-terra, pouca-terra, ò solidão! Como um combóio, fora dos carris... Como uma máquina antiga que falhasse... Nada quero já, nada me quiz; nada que eu ame ainda que durasse... E falhar sempre no tempo como quem falha um verso! Tudo arde nos campos por que passo, onde outrora, bem o lembro, houve prazer... Tudo arde, tudo queima, tudo baço. Que ironia, este regresso, este não-ser! Vim tarde para a vida, sim, vim tarde; e a morte, caprichosa, não me quer. E agora, aonde passo, tudo arde; agora, aonde passo, nada serve... Alguém que acerte a Hora ao Universo! Alguém que impeça a vida de bater! Pouca-terra, pouca-terra, longe, perto... Terra, pouca-terra... há-de aparecer - mais terra, qualquer dia, onde viver... Há-de vir, hei-de ser, há-de vir, hei-de ser, há-de vir, hei-de ser, há-de vir, hei-de ser, pouca-terra, muita-terra, renascer!
(Lisboa, 31/05/96)

Lo Specchio della Maggia...

Todo o Homem é mago. Se tu esperas um milagre exterior vais fazer da tua vida um emaranhado de esperas. Toda a crença para além de ti mesmo é uma oração a um Sebastião Universal. Mas é só isto que vem de um Nevoeiro: Um sol que cega e outra vaga gélida de névoa. (Lisboa, 30/05/96)

Credo Unum Deum, Pater Omnipotens...

Todos somos Deus se o quisermos ser, se aceitarmos que Deus somos nós. A Fé não lava a angústia quotidiana, mas dá poder aos bruxos que a governam. Os padres são uns ladrões de almas. Roubam aos tolos para pedir resgate. Pela submissão, pelo dinheiro, pelo prazer. Eles têm olhos e serpentes num frasco sob a cama. Debaixo do tapete do quarto um alçapão esconde uma sala de torturas. Num armário estão cabeças decepadas que suplicam ainda compaixão. Mulheres e crianças nuas gritam das paredes a que ainda estão amarradas, os penitentes pendem do tecto gemendo em latim a confissão de existirem e o pecado de amar. A casa fede a vinho, por todo o lado há papéis, contractos, letras, contemplando negócios com ministros, banqueiros, mercenários, magnatas. O ar tresanda a corrupção. Por detrás de um quadro da Última Ceia ocultam um cofre com segredo onde guardam as esmolas dos fiéis. Dessas ofertas de sacrifício e de sangue hão-de um dia mandar fazer um palácio. Até lá descansam sorridentes sobre a ingenuidade das massas. Porque eles sabem, como qualquer Homem Livre, que Deus é uma extensão deles mesmos mas que o comum dos mortais não suporta contemplar tal extensão. As massas precisam de expurgar o absurdo como um corpo repele os seus excrementos. Tirar-lhes isso é tirar-lhes o ar com que respiram e impedi-las de ser. Por isso a Igreja é o Estado mais poderoso do Mundo e o mais tirânico e cruel. Negar a Igreja é negar os medos do Homem e, como tal, parte da sua natureza débil e da sua História. É esse afinal o seu maior Poder: saber que os Homens negam maioritariamente o seu Deus (a divindade inegável que está neles mesmos) permitindo-lhe assim que se mantenha imortal.
(Lisboa, 29/05/96)

Sobre os Donos do Mal ou os Senhores do Mundo

Ele era talvez um homem com aptidão natural para o conflito. Nele havia sempre a ânsia da disputa, uma vontade de guerra, uma chama ígnea de rancor. Os seus desejos não tinham calma nem paz, nem simpatias, cuidados ou ternuras. Rios de sangue, pântanos de morte, areias movediças de tormentos eram os seus ideais secretos e profundos, as suas aspirações. Queria por vezes que um outro o ofendesse, apenas para polir as suas razões mais do que suficientes e justificadas, para assegurar a força retórica de um ataque, uma agressão, de uma investida, para assegurar na assembleia social, na plataforma política das discussões e dos discursos a legitimidade da sua maldade humana. Ele era mau, mas não era único. Tinha apenas de se preocupar em gerir democraticamente, entre todos os homens vis deste mundo, a sua maldade imbecil e bestial. Se tudo lhe era turvo, havia que saciar a sede de vinganças. Dizia ele que assim, através da violência infundada (como o é toda a violência), mitigava a sua angústia. Mas este homem não era o executante físico. Toda a sua acção era moral. Ele era um Senhor do Mundo ou, senão deste, pelo menos, um Senhor de alguém que não era senhor de si próprio. Matava, assim, sem ter de verter sangue. Sem ter de manchar as mãos. Pesava apenas crimes que não tinha numa consciência adormecida que jamais o impedia de dormir. Porque há homens consumidos pelo ódio que não suportam ver as suas mãos manchadas, mas que mancham tudo em seu redor. Mas no fundo, tais homens são uns cobardes sem dignidade ou ponta de valor: a Sorte que tiveram foi-lhes tão ingrata que não lhes deu sequer a frieza para cumprir as suas convicções...
(Lisboa, 21/05/96)

Reformulando a Lição de Inocêncio X, Papa Iluminado, mas Pouco...


Vir ao Mundo é um acidente cósmico, um revés mal-fadado da Fortuna. O instinto do que nasce é amaldiçoar a sua Sorte. É por isso que choram os recém-nascidos. (Lisboa, 20/05/96)

Inland Empire - Hollywood Ending - From Linch to Allen

Um dia, meu amor, vou ser famoso. As multidões vão fazer fila nas ruas, nos passeios, à porta dos hotéis onde eu me hospede e dos aeroportos das capitais para onde eu viaje. Eu vou ser uma estrela eclipsante, um meteoro que eternamente tombe e resplandeça, que sempre espante quem o olhe e nunca tenha fim. Tenho a certeza disso porque pus de lado da razão todas as dúvidas. Sim, sem dúvida que é certo. É um feito consumado mesmo que por agora ainda esteja por fazer e por ser. Mesmo que por agora não seja mais do que um sonho no mais fundo de mim. A verdade não está na verdade ela mesma (que nunca o é por inteiro e intrinsecamente) mas naquilo que a alma de cada um lhe dá. A minha fé é a minha verdade e o meu Futuro. Cepticamente me declaro sobre-humano e cepticamente afirmo com a categorização soberba que há no dogma que toda a Glória me pertence. Tudo é meu no que há-de ser, nada me vence! Queres o meu autógrafo por antecipação? Queres o meu corpo, a minha boca, a minha solidão? Ou a minha amargura, a minha exaltação? E que tal este meu pobre coração? ...
(Lisboa, 18/09/95)

Diário do Poeta Anoitecido...


Escrevo nos dias a minha solidão...

Alguém que venha aqui e me dê a mão!

(Lisboa, 17/09/95)

Sentado na Brasileira, com um Café na Mão e a tua Estátua Adiante...

Talvez Pessoa adormecesse à mesa quando escrevia dolente os seus poemas.
Talvez nada criasse e copiasse apenas…
Talvez tenha encontrado o génio da garrafa.
Mas o que importa o como, ante o que o génio faça?
Lisboa, 16/09/95)