
É um vazio o meu ser. Ando fora de tempo como um combóio fora dos carris: Além perdi a Gare, aqui perdi a Estação. De Entroncamento a Estarreja, e eu não vejo ninguém, nem há ninguém que me veja! Dia e noite junto ao forno que não tenho a lançar às chamas o carvão... Tanto que ardeu na imaginação! Pouca-terra, já lá vem mais um furgão... Pouca-terra, pouca-terra, ò solidão! Como um combóio, fora dos carris... Como uma máquina antiga que falhasse... Nada quero já, nada me quiz; nada que eu ame ainda que durasse... E falhar sempre no tempo como quem falha um verso! Tudo arde nos campos por que passo, onde outrora, bem o lembro, houve prazer... Tudo arde, tudo queima, tudo baço. Que ironia, este regresso, este não-ser! Vim tarde para a vida, sim, vim tarde; e a morte, caprichosa, não me quer. E agora, aonde passo, tudo arde; agora, aonde passo, nada serve... Alguém que acerte a Hora ao Universo! Alguém que impeça a vida de bater! Pouca-terra, pouca-terra, longe, perto... Terra, pouca-terra... há-de aparecer - mais terra, qualquer dia, onde viver... Há-de vir, hei-de ser, há-de vir, hei-de ser, há-de vir, hei-de ser, há-de vir, hei-de ser, pouca-terra, muita-terra, renascer!
(Lisboa, 31/05/96)
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