
Eu vim falar-te da traição das palavras: não creias em sentido algum. Não creias nem te julgues ser César no Mundo da Linguagem. A esse trono onde provisoriamente te sentas chegar-te-à um dia um Brutus com punhais a quem gritarás: «Também tu?!». Não queiras ser Rei onde nenhum Rei é possível. Há Reinos que não têm majestade: repara no Reino dos Céus! Por usares e brincares com esse uso, não te julgues mestre: tu guias o teu Chevrolet, como Campos, pela estrada de Sintra, mas para guiá-lo tens de estar fechado lá dentro. Não dominas nada na linguagem no uso que fazes dela; antes, ela usa-te, porque é por ela apenas que constróis o teu mundo e conheces e suportas a tua consciência. Fala, escreve, inventa-te linguisticamente; mas nesse acto em que te crias a ti mesmo e em que denuncias (mesmo sem querendo, mesmo sem sabendo) o teu modo de ser, cala o teu orgulho. O que és? Não sabes. Não queiras também sabê-lo. Não perguntes. Goza antes, em humilde silêncio, o prazer que sentes em, pelo simples uso de palavras, te teres feito um Homem…
(Bruxelas,10/11/03)
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