Alexandria - Se Tu Queres Sarar a Solidão...

Do Elogio da Morte ao Requiem do Abandono, Alexandria é a Biblioteca das Ruínas de cada Eu fragmentado, da insustentável esquizofrenia do Mundo...

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Imagine Alexander, before conquering half the world: A man full of dreams and handful of sand. Well, that's me...

Tuesday, July 31, 2007

Semântica da Utilidade - Sense and Meaning

Tenho noção da utilidade de um vaso antes de lhe pôr dentro uma planta. O cabide traz-me à memória o casaco que lhe visto sem que eu precise de estar a ver o casaco. A frigideira não precisa do ovo para que eu conheça a sua função. O bengaleiro já sabe, quando eu entro, que lhe vou deixar o guarda-chuva; o sofá já espera o meu cansaço, a minha indolência incurável ao fim da estafa do dia. Cada objecto conserva gravado o propósito para o qual se viu feito. Mas que uso há em mim e no meu cansaço e na minha presença fastidiante impondo-se a todas as coisas? Que utilidade eu tenho que me dê sentido de uma forma inata como o que recebe cada objecto que eu uso? Para que sirvo? Porquê?
Eis então a razão que há na arte. Por mim, o ideal Dada desconstruiu o mundo para entender, para cada sujeito, qual o seu objecto, qual a peça que justifica o Homem que surgiu. Desmontado o carro, posso entender, talvez, a razão do motor. Senão, reiventá-lo na sua funcionalidade: desmantelo a arbitrariedade de outros para instituir a minha função que será então original. Da antiga decadência reconstruo a minha originalidade, o meu eu funcional, justificável por se reger por mim. Dos desperdícios de outros, faço a minha evolução única. De um urinol de leis que outros ditaram, reescrevo o mundo e faço a minha fonte.
Inversão de valores? Talvez. Mas, acima de tudo, conversão da minha unicidade no lugar central e insubstituível que deve ocupar na sociedade, na vida, no Universo.

(Lisboa, 05/01/03)