Alexandria - Se Tu Queres Sarar a Solidão...

Do Elogio da Morte ao Requiem do Abandono, Alexandria é a Biblioteca das Ruínas de cada Eu fragmentado, da insustentável esquizofrenia do Mundo...

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Imagine Alexander, before conquering half the world: A man full of dreams and handful of sand. Well, that's me...

Thursday, August 16, 2007

Articínio

Não existe arte abstracta. Porque a Arte é abstracta quando se cansou de ser Arte e quis experimentar novas coisas. O Homem de bom-senso não pode nunca chamar «arte» a uma experiência, mas tem consciência de que sem esta última não pode chegar à primeira.

(Lisboa, 19/03/05)


Tuesday, August 14, 2007

Cinematografias...

Em The Life of Brian (Monty Python) eu vejo Cristo, um simples mortal, nu, desprotegido, idealista, abrindo as janelas ao Mundo. Ele é alguém que crê na perfeição e sonha que ela pode estar em si mesmo. É um louco, um genial louco. Mas a sua loucura não está em pensar isso de si. Está em crer que pode, efectivamente, mudar os outros. É verdade que as palavras certas movem as massas egoístas e inúteis. Mas nenhuma palavra fará delas aquilo que não são. A prova disso é o Jardim de Gethsemani e o Calvário e o monte da Crucificação. A prova disso é a derrota inevitável do Homem. Que importam, aos vermes que somos todos, os teus sonhos? Os sonhos, pobre génio, os sonhos que temos, não podem nunca interferir nos planos dos outros Homens. Eles ressentem-se. Eles querem milagres mas não querem, não podem, não conseguem abdicar. Tu pediste demais. Pediste o que não podias já pagar. O Homem não esquece. Nunca esquece. Cobrou a dívida. Por inteiro. Com juros. O teu mito não é mais do que um meio original de lavar as mãos como Pilatos, de limpar a consciência pesada que o tempo enegreceu…

(Lisboa, 18/03/05)

Monday, August 13, 2007

Pobre Tolo, King Lear!

Há um bobo latente em todos nós. É uma parte do nosso subconsciente.

(Lisboa, 17/02/05)


Sunday, August 12, 2007

O Sermão de Zenão Bêbedo, Serralheiro Solitário...

A vida só existe para que admitas a tua estupidez inútil e depois te mates. Eis a beatificação, eis a dissolução do mito de Cristo, eis o Estoicismo. Todo o estoico se suicida. O que é que aqui fazes?

(Póvoa de Santo Adrião, 09/01/05)

Saturday, August 11, 2007

Misere Me...

Sou miserável. E tu, leitor estúpido, tira esse sorriso. Quem te mentiu dizendo que eras melhor do que eu? Cala-te miserável, por duas vezes miserável, por três vezes miserável(!), por o seres, por saberes disso, por fingires que o não sabes…

(Póvoa de Santo Adrião, 09/01/05)


Friday, August 10, 2007

Três Quadros:

O Nihilista: A retórica é a força aniquiladora do Mundo. Homens doutos, falem.

O “Utopista”: A retórica é a força aniquiladora do Mundo. Homens doutos, calem-se.

Dois Homens:

– Para quê a retórica?
– Para que Deus pudesse existir.
– Para quê Deus?
– Para que o Homem pudesse existir.
– Para quê o Homem?
– Para que o Mundo pudesse existir.
– Para quê o Mundo?
– Para preencher o vácuo.
– De onde nos vem este medo do vazio?
– Deste coração fraco, deste coração fraco…
– Oh, Destino cruel! De onde surgiu esta condição de ser abstracto?
– O Diabo secreto que há em ti firmou em ti um pacto.

(Póvoa de Santo Adrião,08/01/05)

Por Detrás do Muro...


Que é a ficção senão o real oculto perante os olhos dos cegos?


(Póvoa de Santo Adrião, 07/01/05)


La Divina Commedia


Ah! A Divina Comédia?! Mas que comédia é mais divina e maior do que aquela que vives?


(Lisboa, 03/12/04)


Tacet!

Falar é um falso testemunho, constante deformação do vivido.


(Vietri Sul Mare, 17/09/04)

Tuesday, August 07, 2007

Segundo Excerto do Pseudo-Heródoto Atribuído a Adonis

Os meus jardins são estéreis porque não são verdadeiros, mas a beleza que têm ultrapassa a de qualquer bosque no mundo. O meu rosto é jovem, mas imperecível e tão antigo quanto a idade dos Homens… Entre o baixo e o alto fui amado dos deuses e na terra sou fonte de cultos onde os que amam a Beleza me visitam e bebem. O que busco e instigo é o prazer, e o prazer maior encontrei-o em mim mesmo. Narciso é o meu melhor amigo. Alturas há em que sonho ser ele um pedaço do meu eu. Na verdade, sofremos vias diferentes, mas na essência somos um só e Ovídio deu-nos vida no mesmo poema. Dorian Gray fundiu-se comigo e o retrato dele é o meu. Dele nasceu a minha consciência que aguarda ainda o herói que a contemple. Eu sou múltiplo, concebido de opostos; sou a Treva e a Luz, o Dia e a Noite; mas nada há em mim que não seduza: como este bosque onde vivo e onde tudo convida à contemplação. Toma guarda, porém, incauto espectador! Advertiu-me um oráculo sobre o poder do olhar: Voir est un acte; l'oeil voit come la main prend (Paul Nougé); e agir, por sua vez, é mudar e ser mudado. Cuida pois nos gestos, no olhar! Toma guarda das metamorfoses! Cuidado viajante!, cuidado!

(Lausanne, 15/02/04)


Monday, August 06, 2007

Pó de Arroz...


A maquilhagem é uma variação do rosto.

(Lausanne, 12/02/04)

VitaMarket...

Esta obrigação quotidiana grava-te no corpo um código de barras. Pára de ser mecânico! Não te repitas! Não vivas o teu quotidiano! Desvanece-te apenas, pela simples razão de seres inútil, de não teres originalidade alguma, de siginificares nada…

(Bruxelas, 12/11/03)

Sunday, August 05, 2007

Armistícios...


NOTA: ARMISTÍCIO A, 11 de Novembro, assinala-se o aniversário da assinatura do Armistício que pôs fim à I Guerra Mundial. Estranhamente, Portugal, que esteve lá, não o celebra. Na Bélgica, por exemplo, cuja participação directa não foi tão efectiva quanto a nossa (na verdade, os belgas cumpriram serviço militar sob as cores da França) é feriado. E cá...? Ninguém, quase, sabe já o que é o Armistício. E, na verdade, esta data, esta memória, a que serve? É uma lição a tirar, é certo; é um símbolo, um importante símbolo. E, pelo que representa, é um símbolo a não esquecer ainda que a memória do homem seja fraca face à cupidez e à mesquinhez que lhe são próprias. Mas além disso? Uma simples data que marca uma pausa; mas a pausa que marca não é no nosso egoísmo. Eis, sobre isto, uma consideração um pouco mais extensa, há um par de anos, encontrava-me eu, precisamente, em Bruxelas e, estava de folga! Por causa do Armistício...

Fim de uma Guerra? Quase. Fim de Uma Batalha. O Homem ainda vive: A Guerra não acabou...

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Hoje o dia foi breve e foi triste. Um feriado célebre, o fim de uma guerra... Mas que celebração elimina as Guerras de um Homem? E que importa festejar uma qualquer paz num dia entre 365? Que importância real pode adquirir uma data num calendário, que não representa nada para quem a festeja? É feriado. Porquê?... Que me interessa? Estou de folga. Não trabalho hoje. Isso sim, tem valor. Por aí ganha importância o feriado e faz sentido marcá-lo no calendário. Para além disso? Celebrações? Não tenho tempo. O estado das coisas é de crise, para não falar naquele de mim próprio. A paz? Neste mundo criado não há paz possível. A geração de tudo é o conflito. O sentido dos Homens está no Caos e é o Caos, também, que o constitui. Batalhar é preciso. Guerrear é forçado. Matar qualquer coisa, nem que seja moscas, por dever ou tédio, convicção ou neura, é essêncial. O Mal de algo geral não desmente um Bem do indivíduo. Tudo é relativo na sua especificidade. Tudo é inútil para além das medidas do corpo. Tudo é indiferente para além de um proveito prático. Esse é, aliás, o único sentido para qualquer particular ou universal. Armistícios? Pode ser, que me importa?! Desde que mos marquem no calendário para que eu possa gozar a minha folga!
Mas foi tão breve o dia, e foi tão triste…

(Bruxelas, 11/11/03)

Saturday, August 04, 2007

Primeiro Excerto do Pseudo-Heródoto Atribuído a Adonis

Eu vim falar-te da traição das palavras: não creias em sentido algum. Não creias nem te julgues ser César no Mundo da Linguagem. A esse trono onde provisoriamente te sentas chegar-te-à um dia um Brutus com punhais a quem gritarás: «Também tu?!». Não queiras ser Rei onde nenhum Rei é possível. Há Reinos que não têm majestade: repara no Reino dos Céus! Por usares e brincares com esse uso, não te julgues mestre: tu guias o teu Chevrolet, como Campos, pela estrada de Sintra, mas para guiá-lo tens de estar fechado lá dentro. Não dominas nada na linguagem no uso que fazes dela; antes, ela usa-te, porque é por ela apenas que constróis o teu mundo e conheces e suportas a tua consciência. Fala, escreve, inventa-te linguisticamente; mas nesse acto em que te crias a ti mesmo e em que denuncias (mesmo sem querendo, mesmo sem sabendo) o teu modo de ser, cala o teu orgulho. O que és? Não sabes. Não queiras também sabê-lo. Não perguntes. Goza antes, em humilde silêncio, o prazer que sentes em, pelo simples uso de palavras, te teres feito um Homem…

(Bruxelas,10/11/03)

Friday, August 03, 2007

«E No Princípio Era o Verbo...»

A Linguagem é a mãe de todos os Homens.
Le Language est le berceau de tous les Hommes.
Language gave birth to every Man.
Il Linguaggio è il Genesis dell’Umanità.
El Langage es el creador del Hombre.
Aus Sprache ist Man geboren.
Ab Loquor nacquit Homus.

(Bruxelas, 12/10/03)

Thursday, August 02, 2007

Mil e Uma Mágoas, Mil e Uma Noites...


Scheherazade é a minha alma. Que sultão a condenou?

(Lisboa, 05/04/03)

Wednesday, August 01, 2007

Das Kapital - O Deus Supremo

Esta Era transporta consigo (como as outras que a precederam) uma intensa preocupação com a Morte. Esse vulto sombrio e encapuçado com a foice do tempo numa mão ossuda vem ensombrando continuamente os sonhos das avestruzes abismadas que somos. Mas a passagem dos anos tem o seu modo próprio de transformar a nossa realidade e as suas preocupações. O Homem teme o tempo que passa mas a ciência vai atenuando esse temor. Das cinzas desse, porém, outro ganha forma. E o que se teme mais neste milénio, não é já a morte de um corpo, de uma sociedade, de uma civilização, até mesmo de um planeta cada vez mais esgotado de recursos e equilíbrio ambiental, mas a morte da Economia das Nações a que o génio e o engenho Humanos deram a responsabilidade e o poder de reger tudo. Assim, na roda incansável dos ideais, das espiritualizações, das crenças, o Capitalismo é o novo Deus que determina os valores, os estatutos e as necessidades. A sua palavra é escrita com cifrões e é sempre de Ordem. A sua Ditadura é aclamada, pedida, exigida entre a súplica chorosa e a ameaça, entre as lágrimas pedantes e os delírios da raiva. O Homem perdeu-se nas suas adorações e na noite da sua estupidez. Ele ama o Poder que instituiu e que o escraviza, e só assim escravizado pode sentir-se feliz. De facto, diante da Liberdade, essa mulher difícil, o Homem Comum não sabe o que fazer com ela, e o Instruído há muito que a renegou. Porque a Liberdade, para o primeiro, implica decidir e ele não sabe nunca o que escolher; para o segundo, é responsabilidade e ele não se dá bem com a Moral.
Assim, através dos séculos, o receio persiste, e a Morte ainda assusta no seu cavalo preto, com a sua foice, o seu capuz protector, o seu esqueleto caiado, promessa sarcástica da nossa decadência. Mas o terror absoluto reside apenas na morte desse Deus que gere todo o interesse, desse grande irmão dos donos deste Mundo que dá pão e água aos deserdados. Dá em troca da humilhação. Dá em troca da vassalagem. Dá em troca da alienação.
Sim… Esta Era transporta consigo uma intensa preocupação com a Morte: mas a Morte que assusta é a do Poder, não a do Homem. O vendedor de sonhos está tão cego na teia dos seus negócios, que teme a perda da carroça que conduz, bem mais do que a do ser que lhe dá forma. (Lisboa, 06/01/03)