
O Fado é um ritual de redenção. No momento em que uma prostituta começa a cantá-lo é promovida a pessoa, depois a mulher, depois a santa. Terminada a sessão, regressa ao estatuto inicial de mula. A sociedade tem esta forma sublime de catalogar os seus membros, e de os promover ou despromover nas suas hierarquias de acordo com a conveniência das várias situações. No fundo, é como a celebração da missa. Os homens e as mulheres entram sujos da merda quotidiana, desperdiçam algum latim, lançam
amens, comem a hosteazinha, rezam pela Humanidade que desprezam e saiem de alma lavada para voltar às engrenagens ferrugentas das suas vidas más... Sem dúvida, as religiões são o ópio do povo…
(Lisboa, 22/12/02)
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