Monólogo a duas vozes:[1]

– Não sei.
– Que queres?
– Esqueci.
– O que é a memória?
– Algo de horrendo.
– A verdade onde está?
– Perdi.
– Vais para que sentido?
– Qualquer.
– Com que intenção?
– Nenhuma.
– Alguém te espera algures?
– Uma mulher.
– Como se chama?
– Bruma.
– Como o lembraste?
– Ela mesma mo disse.
– Quando?
– Agora.
– E que faz ela?
– Ri-se.
– Quem a acompanha?
– A Aurora.
– De onde as conheces?
– De mim.
– Quem elas são?
– Eu.
– O que te ensinam?
– O Fim.
– Que nome lhe dão?
– Deus.
– Onde se encontram?
– Onde há espaço.
– E o Espaço é grande?
– Talvez.
– O que vês nas Estrelas?
– Um laço.
– E para além dele?
– O mesmo que tu vês.
– Tens algum ideal?
– A Fome.
– Tens alguma arma?
– O Verso.
– Se fosses Deus, que ordem dar aos Homens?
– «Come!»
– E que morada, enfim?
– O Universo…
(Lisboa, 09/05/05)
[1] Título de Lénia Marques
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