Is It You, Dear Me...?

Inúteis analogias! Sofremos. Ponto final. Não comparemos. Que aborrecimento impossível nesses comos, nas metáforas com as suas substituições, nas metonímias com as suas insuportáveis associações de ideias!
Se há tédio, se há neura, se há dor, se há morte a aproximar-se, se há cansaço, se há irritação, se há solidão, se há sono, se se pensa sem haver que pensar, que seja apenas tédio e neura e dor e morte a aproximar-se e vida em fase de espera (por favor uma cadeira para que eu me possa sentar), que seja apenas cansaço e irritação e solidão e sono (que se durma), e um pensamento vago e prescindível (que não se pense então), que o que é seja simplesmente o que é como sempre foi sem se pensar nisso ou no que poderá ainda vir a ser, para que não se volte a falar nisso, e a vida não se repita, que acima de tudo não se repita, que nada se repita, acima de tudo não repetir, essencialmente não repetir, porque é importante não repetir, e eu repito-me, decididamente repito-me, sim, repito-me, repito-me, repito-me, chego mesmo a existir a dobrar… Sim, a verdade é esta: tenho um duplo nas veias a brincar com os meus dias… Porém, se numa frase, a repetição pode ser eliminada, como eliminar a repetição na vida? (Lisboa, 23/12/99)
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