Alexandria - Se Tu Queres Sarar a Solidão...

Do Elogio da Morte ao Requiem do Abandono, Alexandria é a Biblioteca das Ruínas de cada Eu fragmentado, da insustentável esquizofrenia do Mundo...

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Imagine Alexander, before conquering half the world: A man full of dreams and handful of sand. Well, that's me...

Sunday, July 01, 2007

Das Horas, Dos Versos, Dos Fantasmas...

Tão tarde! Como perdi o sentido das horas? E o sentido da vida? Onde está esse sentido incorporado no sentido anterior? Uma náusea entorpece-me os sentidos; esses cinco sentidos que não uso, que não me servem de nada...
De facto, que vejo eu com estes olhos cansados, esquecidos aquém das lentes? Um dia escrevi já ter pensado ter dito ser tudo uma ilusão...
E o olfacto? Que cheiro? É subjectivo o prazer deste perfume, como o prazer que tiro do teu corpo... mas estás tão longe amor, estás tão distante! És uma névoa pairando no horizonte roxo, na hora triste em que o mundo se desmorona, o universo se quebra, as estrelas explodem em fulgores ingentes e o sol, esbatido, vem morrer no mar...
É indistinto o ruído dos carros, abafado pelos homens dos andaimes que soltam gritos do seu cume de vertigem, pedindo mais uma viga, exigindo um balde, um pincel, assobiando para as mulheres que passam... A cidade fervilha no seu tumulto urbano, mas no deserto das minhas sensações tudo se apaga, toda o progresso se esfuma no mais por dentro de mim...
E mais por dentro desse interior sombrio, distingo um batimento regular, um toque surdo, soturno, monocórdico... tão além e tão perto! Sexta-Feira deixou Robinson sozinho na sua ilha e veio rufar para dentro do meu peito. Mas que cansado Sexta-Feira deve estar! Porque esse bombo soa mais e s p a ç a d a m e n t e... O seu toque fraqueja... E as horas passam mais pesadas... tic-tac... meu coração, meu futuro... És tão turvo! Tão administrativo! Tão burocrático! Tão aflitivamente sepulcral!
(...)
Bate... bate... bate... Sexta-Feira, coração!, ninguém te ouve!... Sexta-Feira, coração!, ninguém te quer! Estás negro, coração! E o céu que negreja! E o futuro que negreja! E a esperança que escurece nas tuas desilusões! Tudo é tão pálido! Tudo é tão vazio! Tudo perdeu as suas dimensões...
Como é insensível todo o Mundo! Como é frio todo o Universo! Como sabe a nada o contacto material com essa caneta com que escreves a tua inquietação!
E essa mão que então a movimenta e que, sem o notar se reinventa, como pode jurar acontecer? Como dizer que a escrita se apresenta, e que a vida de facto se experimenta, se eu não sinto, nem vivo a mão mexer??!

(Lisboa, 08/12/99)

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