
Sou arrogante, confesso-o. Chego a ser um bruto. Sou orgulhoso e soberbo; sem justificações convincentes e regradas, declaro-me genial. Sou teimoso, sou felino, sou irónico, sou sarcástico, sou cáustico, sou cruel e sou mau. A minha unicidade é um assombro! Sou interminavelmente inteligente e apático, intratavelmente humano e louco, incompreensivelmente além e deslocado de tudo! Ah, Humanidade! Alguém que me açoite! Sim, batam-me, batam-me! Rufem-me como um bombo! As minhas orelhas são timbalões abanando, as minhas costas são de lona sêca, os meus membros são pratos e a minha cabeça é uma tarola agastada. Batam-me com força! Musiquem-me! Orquestrem em mim o vosso ódio por moer do corpo e o vosso tédio por queimar! Dêm largas em mim à vossa raiva por deitar ao lixo e à vossa frustração de falhar em tudo! Eu quero expiar a Humanidade inteira por ser maior do que ela! Eu quero que me aniquilem! Eu quero que me amem! EU NÃO SEI O QUE QUERO! Eu quero que pudesse querer querer o que quisesse e que tudo o que quisesse se fizesse de facto! Eu quero que me anulem, me neguem e me contrariem! E que depois me exaltem e glorifiquem e me achem o maior dos maiores, o deus dos deuses supremos e absolutos. Eu quero que me matem por inteiro deste espaço mesquinho e prático da vida e que depois me renasçam como a Fénix, e que depois me consolem com um sem fim de beijos, e que depois me abracem com um não poder de saudade, e que depois me reclamem e me adorem, e que depois me idolatrem, e que concordem comigo…
(Lisboa, 28/12/99)
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