Apócrifo das Memórias de Ricardo Reis

(...)
«Mas oh! - exclamas - o seu caudal é tão curto, a nossa vida tão breve, e este mundo tão frio!».
Sim, Lídia; por isso nós arrumámos o barco entre aqueles juncos compridos e viemos sentar-nos nesta margem; por isso nos esquecemos de nós e contemplamos. Tudo é passagem se não fixarmos, por instantes, isso que passa pelo fantasma que somos; tudo é uma impressão, uma sombra, um vulto. Sermos um com as coisas é olharmos para elas, tendo-as a elas, unicamente, nos olhos, que não são apenas estas esferas de ver. Viver não está em estar, mas em saber sentir. Em teu redor há toda a vida que te chama... Mas saberás, tu, ouvir?
(Lisboa, 11/12/99)
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