Ratoeira...
Lembro a origem de tudo: Estavas no cruzamento entre o céu e o mar, e bebias insaciavelmente a paisagem. Eu passava de barco, como passo às vezes, disfarçando a minha solidão. Fingi-me um pescador em águas agitadas, e lancei uma rede ao teu perfil de sereia abandonada, deixando no ar essa proposta em que pedia que tu fosses minha. Porque o ideal do amor é sempre livre mas o desejo pede a propriedade, anulando, assim, o ideal.Foi talvez por me fingir ser outro que esqueci os vários perigos do mar. Esse barco em que digo que passeio, como todo o barco que passeia, estava destinado à tempestade. E a sereia que o teu
canto sugeriu, foi tirada da fábula de Ulisses e surgiu-me diante dos meus olhos com o propósito singular e cruel de me enfeitiçar para o confim dos Tempos. No alvoraçar do meu desejo, eu fui em busca da minha vontade, e fiz-me predador para cumpri-la. Mal sabia, ò perfida visão!, que a eterna maldição do caçador é ser tornado na presa que ele caça…(Lisboa, 30/11/99)
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