
Faz um frio de rachar. E eu sem conseguir pegar no sono… Que tristeza, amor! Que solidão estar sem ti! Tenho a impressão, por vezes, de que toda esta geada nasceu da tua ausência! Não queres sair dessa distância insuportável de raínha do gelo para vires até aqui à minha beira calar o meu sofrimento? Toda a primavera começa com um beijo, cantou uma vez certo bardo junto à torre do castelo da princesa mais bela, nas pradarias imensas da Bretanha… Fico então deitado, curando a minha insónia, sonhando, não dormindo, com esse momento ideal e sublime em que tu me beijasses. E o beijo enfim a acontece. Ainda bem que era um sonho. Imagina que tudo acontecia de facto: A primavera seria então eterna, e para sempre duraria a minha felicidade. E eu, miserável e humano, que aborrecimento enorme sentiria desse idílio do sonho! E que saudades daquele frio que me rachava os ossos e me deixava vazio e infeliz! E eu sem conseguir pegar no sono! Que tristeza amor! Que solidão nesta Beleza Infinita em que a perfeição domina todas as coisas! Tenho a impressão, talvez, de que este sol me nasceu do inferno que carrego na alma… Não queres voltar a essa distância inalcançável para me trazeres de novo aquele gelo que tanta falta me faz? Todo o Inverno do Homem surgiu de um imenso bocejo… disse-me um dia um certo sábio a quem eu dei de comer… Fico então deitado, curando a minha insónia, sonhando, não dormindo, com esse momento ideal e sublime em que a treva voltasse. E a noite enfim acontece. Ainda bem que era um sonho. Imagina que tudo acontecia de facto: A treva seria então eterna e para sempre duraria a minha infelicidade. E eu, miserável e humano, que aborrecimento enorme sentiria dessa dor repetida! Sim, faz um frio de rachar. E eu sem conseguir pegar no sono…
(Lisboa, 07/12/99).
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