Alexandria - Se Tu Queres Sarar a Solidão...

Do Elogio da Morte ao Requiem do Abandono, Alexandria é a Biblioteca das Ruínas de cada Eu fragmentado, da insustentável esquizofrenia do Mundo...

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Imagine Alexander, before conquering half the world: A man full of dreams and handful of sand. Well, that's me...

Saturday, June 16, 2007

E É Tão Urbano Este Desgosto!...:

Sigo aos tropeções nas avenidas; passo sem acerto pelas calçadas sujas; empurro os transeuntes domingueiros por me doer o terem um domingo e o gozarem, assim, tão levemente; ofendo sem justificação plausível o agente da autoridade regular, pondo em causa a autoridade de que ele se diz ser agente; espanco brutalmente os mendigos que se insurgem contra a minha pobreza; grito às casas mortas a minha solidão: «Ò Gentes, venham às portas!, às janelas!, quero pão! Se pão já não tiverem, não dão um beijo, não?». Ninguém. Ninguém! Tanta vileza! A Vida está aqui, eu estou além. A Vida está alí, eu estou aquém. Isto é suspeito: Vivo sem Norte na bússola do peito… Vivo sem Norte... Que mágoa a incerteza!
– Não, não, … claro… é garantido!, passo aí para fechar o negócio amanhã…
– Vê por’ond’andas, cretino!
– Se eu mandei a carta? Mas se só ontem recebi o teu telefonema!
– Sim, amor, eu estou em casa, talvez, antes das dez… muito trabalho sabes… Espera, tenho outra chamada… Olá Mónica! Jantar hoje, sim, não, não me esqueci, está tudo tratado… sim, ela julga que eu estou a trabalhar…
– Vvvvvvrrrrrrrrrrrruuuuuummmmmm… PpppAaaaMmmm!!!
– OOOooooohhhhHHHHHH!!!!!!
– Não há nada para ver! Circulem! Circulem!
– Para a Sé?
– À direita… à esquerda… contorna… depois… e passando os semáforos… então sempre em frente… e vira na esquina da… com a… e então a direito… é muito fácil…
– E para a Morte? Para a Morte? Para a Morte?
– À direita… à esquerda… contorna… é muito fácil…

(Lisboa, 17/07/98)

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