Diário do Cínico Solitário...

E eu, como sempre, passo alheado a essas manifestações, como quem passa pelo sujeito do Metro que nos estende um panfleto ou nos vende pensos e revistas em nome da sempi-eterna pobreza dos miseráveis. O meu egoísmo não admite complacências, e, na maioria dos casos, o meu egoísmo está certo. A minha consciência, ainda jovem e esquiva, vem, por enquanto, sustendo bem os seus erros.
Parece então que o sujeito comum e o incomum se preparam, unindo esforços, para a recepção com pompa desta promessa nova. Mas que posso eu fazer, eu que desprezo e abomino toda e qualquer promessa? Eu que me cansei de prometer e esperar, e de falhar nas promessas e nas esperas? O que cabe fazer ao Homem Desesperado, ao Homem Lógico, doentiamente racional e infeliz? Nestas horas de promessa para os outros, o que lhe resta é então a imitação de São João, na sua visão do Apocalipse. Ao Homem, porém, mais modesto (ou mais impotente do que o ideal de profeta ou de santo), não se admite mais do que a contemplação do termo de si próprio.
Preparo-me então para o fim de mim mesmo com a mesma determinação com que as beatas (ainda e sempre por apagar, ò paciência!) se preparam, remoendo rezas, para o fim colossal de todo o Mundo… O resultado disso será imprevisível como qualquer fim, nem poderei eu reportá-lo. Pois que ser neste mundo estagnado tem o dom (ó lamentável limitação da lógica!) de relatar o termo de si próprio?! (Lisboa, 02/12/99)
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