
Já não há medo neste precipício… Só rochas lá em baixo, tal como aqui, no pico da falésia. Apenas varia a altura entre o seu espaço e o meu. Passou o tempo em que era um Monstro tudo o que eu não conhecia. Depois dele veio a sede de desvendar os mistérios. Mas o aventureiro foi esventrado pelos seus próprios sonhos. Eu sou o que restou do seu esqueleto. Porque é infinito o Tempo, é infinita a minha paciência. Já não busco mais nada pois nada há para achar. Aqui como ali há vida e pedras alternadamente como em qualquer outra parte. E o haver isso me basta para me ter onde estou. O Sol brinca às escondidas com o Mundo há um sem fim de milénios, e eu fico sentado à beira do penhasco a vê-lo brincar, como quem vigia uma criança para que não se magoe. Tomei gosto neste olhar para as coisas só por olhar para elas, apenas por notar a beleza que têm: Todas as coisas são belas dependendo da luz que se lhes dá. E eu ponho a melhor luz em todas as coisas. É por isso que no cume do abismo eu olho para baixo, contemplando o fim, e penso apenas como é belo e calmo e na paz que eu imagino que ele tem. Quando for altura, uma brisa suave há-de empurrar-me adiante, deixando-me cair como um folha sêca. Mas entretanto pude ver o que era belo na vida, e no fundo já não verei a escuridão… (Lisboa, 01/06/96)
0 Comments:
Post a Comment
<< Home