Alexandria - Se Tu Queres Sarar a Solidão...
Do Elogio da Morte ao Requiem do Abandono, Alexandria é a Biblioteca das Ruínas de cada Eu fragmentado, da insustentável esquizofrenia do Mundo...
About Me
- Name: Miguel João Ferreira
- Location: Lisboa, Gumolândia, Portugal
Imagine Alexander, before conquering half the world: A man full of dreams and handful of sand. Well, that's me...
Friday, April 20, 2007
Diário do Coveiro Pasmado

Todas as noites eu tenho este sonho. Todos os dias acordo trémulo e suado, segurando nas minhas mãos deformadas, calejadas de tanto cavar, a pá cheia de terra e um longo pano preto, pesado símbolo do luto do lugar. Foi o meu desespero que o arrancou da miragem e o trouxe à luz além do absurdo.
Um dia outra visão há-de mostrar-me que as portas que se abrem diante dos meus olhos de coveiro pasmado, são uma projecção de mim mesmo, a entrada para as minhas perversões. E dela acabarão por libertar-se os demónios penados que me assombram. Mas nessa altura, já não terei medo. Depois do terror das minhas noites, pela antecipação da pena que me espera, apenas me restará o inconsolável desgosto de me saber coveiro do meu próprio fosso de decomposição, de ser eu mesmo o Inferno que me atormenta e me promete uma eternidade de misérias… (Lisboa, 19/05/96)
Diário do Fantasma do Castelo...

Eles festejam o esplendor da sua côrte; os seus bailes devassos e cruéis são a celebração dos seus actos de vileza, o seu modo de se assumirem como Elite, de se provarem ruins. E nessas noites em que os archotes do mal brilham mais do que as estrelas, eu, mesmo estando longe, rio-me com eles; e também danço ao som das suas modas:
Porque enquanto o Rei se ufana com os seus cães, eu vou no escuro tecendo a minha teia…
(Lisboa, 18/05/96)
Thursday, April 19, 2007
O Homem é um Lugar Estranho...

Dos astros siderais, caíste inerte e lasso - és um palhaço que leva tudo a sério. ri-te, pois és tal qual os outros animais: carne e osso - onde está nisso o Mistério?
Sunday, April 15, 2007
Do Divino

b) Há muito tempo, numa língua antiga que já ninguém fala, Fé do latim fede e do português fede (que reflecte o seu odor nauseabundo) dizia-se: Marg-Ha-Rid-Ha, que veio a resultar no nome próprio Margarida. Eis porque é do Diabo a alma de Fausto…
(Lisboa, 17/05/99)
Meu Pé de Laranja em Lima, em Lisboa, no Mundo... Murchou; Foi um Segundo...

Na minha casa de grande há uma prisão sem grades… Há aviários de homens como de galinhas, há homens que matam como predadores… Uma vez um czar que caçava homens (Drummond) achou crueldade caçar borboletas (Anedota Búlgara)… Homem de Cabidela para os senhores do Mundo… O Homem Ilustre vem almoçar amanhã…
Guerras Antigas, meus romanos, meus persas, guerras modernas, primeiras e segundas

A Humanidade é um polvo que se alimenta do sangue dos inocentes… Mas suponhamos que injecto arsénico nas veias e que a Humanidade inteira faria um festim de mim… Que melhor fim para esta vida feia? Que melhor fim?! (Lisboa, 16/05/99)
Saturday, April 14, 2007
E apesar de tudo, ainda o beijo de Judas...

Wednesday, April 11, 2007
Um Passo Mais Além e Fôra Abismo...

Sunday, April 08, 2007
Musica II - Reinventando Drummond

Uma coisa triste no fundo da sala.
Disseram-me que era Chopin.
- «Encantador» – respondi secamente; e recostei-me...
O meu interlocutor falou então de um desgaste quotidiano,
Vaticinou que esta vida é uma porção de deveres,
Estabeleceu metereologias e furores de dentro e fora da alma,
Relacionou sistemas e culturas com os calabouços do Homem,
Argumentou que as estrelas são simples candeeiros esquecidos pelos deuses
Quando há muitos anos se deitaram para dormir para sempre...
Constatando, enfadado, que eu nada dizia,
Perguntou caçoando o bigode o que eu achava...
Eu considerei as contas que era preciso pagar,
Os passos que era preciso dar,
As dificuldades…
Tudo parecia tão pesado,
Tão complexo,
Tão inútil...
O que havia a dizer?
Assim,
Enquaderei o Chopin na minha tristeza
E adormeci,
Deixando ao homem do sonho a responsabilidade de pagar todas as dívidas
E ao meu aborrecido interlocutor
O copo de gin ainda por beber
Que talvez guardasse essa resposta
Que eu não soube
Não quis,
Não pude dar…
(Lisboa, 2004)
Do Princepezinho (Uma Lembrança)

Apontamento sobre Arte e Estética:

Música que ouço em não sei que espaço, eu quero-te no meu quarto, queria, talvez, ter sido eu a compôr-te…
Colunas de não sei que templo, essa imponência apela ao meu desejo de ter-vos como parte material da minha porta…
Quadro de não sei que cores, as minhas paredes brancas pedem-te que as enfeites, que lhes tires a palidez quotidiana…
Mulher, doce mulher, de um qualquer Deus, enche o espaço vazio da minha cama!
Se eu te desejo, tens a toda a Filosofia, toda a Moral, toda a Estética que suporto e até de que preciso!
Se eu te quero, se acordas com força o meu desejo de posse, então, objecto, iguaria, espaço, temperatura, corpo, ar, seja o que fôr, se eu te quero, se eu te tenho amor, és sem dúvida Arte e essêncial!
E eu hei-de ter-te até que enfim me farte, e que voltes, de novo, a ser banal… (Olho Marinho, 09/04/05)
Cosmogonia

Saturday, April 07, 2007
Breve História da Morte de Narciso

«É o Demo!, é o Demo!» gritam umas almas mais espantadas… É então o Demo o Senhor dos Vivos… Belo Deus Supremo que só consola os mortos! Convenhamos que é um Deus inteligente: é mais fácil consolar um cadáver…
Sim… Os Homens buscam o rosto de Deus… e eu que finalmente o achei! Ainda lembro exactamente como foi… certa manhã de sol fogoso, em frente ao espelho…
Foi o meu maior pesadelo… Era tão feio! Tão real! Tão acessível! Estava tão perto… Conheci então o horror da responsabilidade…
Porque é tanto o esforço de albergar a divindade em nós!
Foi por isso que Narciso se afundou nas águas: ele não se apaixonou por si mesmo como dizem. Narciso nem era muito belo… Mas certo dia foi ao lago matar a sua sede, pesando no seu coração a dúvida de todos os Homens, e viu o que buscava no lago em que bebia. Pareceu-lhe primeiro um outro, mas percebeu, porfim, que o rosto que contemplava era o seu. Como podia, ò perfídia!, ser possível ser ele mesmo toda a divindade? Como suportar agora a obrigação sublime de sempre agir bem, de ser Perfeito, de ser Justo, de ser Bom? Onde cabia nesta descoberta a segurança, o alívio, o repouso do erro?
E foi então que, embrenhado no desespero desta verdade inflexível, e incapaz de se submeter à alienação das crenças, Narciso contemplou uma vez mais o seu rosto, e, com uma expressão de assombro e ódio inconsumível, mergulhou furioso no cemitério das águas… (Lisboa, 28/05/96)
Sunday, April 01, 2007
"Um Pouco Mais de Azul - Eu Era Além..."

Eu vivi na antecâmara do Bom, com as mãos tocando o quase do sucesso; mas o meu fim foi o do mísero farsante que mendigou nos palácios da Fortuna e apodreceu na escuridão dos becos. Fui um pouco, assim, como o corsário afogado que lutou desvairado contra os furores das águas, roçando sempre os dedos nos ramos do arbusto que o levaria enfim à segurança da margem. "Para atingir, faltou-me um golpe d'asa"... (Lisboa, 16/01/98)