Alexandria - Se Tu Queres Sarar a Solidão...

Do Elogio da Morte ao Requiem do Abandono, Alexandria é a Biblioteca das Ruínas de cada Eu fragmentado, da insustentável esquizofrenia do Mundo...

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Imagine Alexander, before conquering half the world: A man full of dreams and handful of sand. Well, that's me...

Friday, April 20, 2007

Mandamento do Profeta Herético


Se o estarmos na vida é da responsabilidade de um outro, estamos isentos do pecado original. (Lisboa, 25/05/96)

Diário do Homem Moribundo


Poder lavar as minhas amarguras, renascer como a Fenix, ainda mais imponente, sobre as cinzas da minha decadência! (Lisboa, 27/05/96)

Diário do Coveiro Pasmado

A vida deu-me uma pá com que venho cavando um fosso. A cada dia o alargo mais uns metros. Quanto mais profundo, mais nítida se torna esta visão de profeta que me visita os sonhos, uma visão terrível que me eriça a pele. Eu estou deitado, com a pá entre os braços, junto à cova que cavo, e o silêncio reina pela noite escura. Não se ouve um insecto. De súbito, do Nada, sobe um estrondo e vejo, horrendo!, o chão a separar-se para dar corpo a um portão enferrujado. Vejo-o abrir-se ante os meus olhos de sono, e assisto incrédulo à aparição de uma alma, tão mísera quanto um recluso em antros de podridão. Ela é magra, esguia, como um esqueleto de fumo, e tem ódio e fogo no olhar. Num sopro de mil trovões, anuncia-me os Reinos do Inferno: esse Inferno a que chamei Ilusão com receio de que se tornasse real…
Todas as noites eu tenho este sonho. Todos os dias acordo trémulo e suado, segurando nas minhas mãos deformadas, calejadas de tanto cavar, a pá cheia de terra e um longo pano preto, pesado símbolo do luto do lugar. Foi o meu desespero que o arrancou da miragem e o trouxe à luz além do absurdo.
Um dia outra visão há-de mostrar-me que as portas que se abrem diante dos meus olhos de coveiro pasmado, são uma projecção de mim mesmo, a entrada para as minhas perversões. E dela acabarão por libertar-se os demónios penados que me assombram. Mas nessa altura, já não terei medo. Depois do terror das minhas noites, pela antecipação da pena que me espera, apenas me restará o inconsolável desgosto de me saber coveiro do meu próprio fosso de decomposição, de ser eu mesmo o Inferno que me atormenta e me promete uma eternidade de misérias… (Lisboa, 19/05/96)

Diário do Fantasma do Castelo...

Eles fecharam-me as portas desse castelo comum em que se fazem nobres. Foi por isso que dos meus trapos de mendigo, das minhas feridas de leproso lacerado, das minhas lágrimas de tanta solidão, eu erigi estas muralhas de ferro, estes portões cinzentos, estas torres altas guardadas por gárgulas e grifos de magias mais negras que os abismos. Dentro delas me resguardo pelos dias tristes, contemplando o Mundo em redor. Daqui observo os homens do castelo que cumprem as suas vidas na estupidez da ignorância plena. Sao moscas esvoaçando sem propósito ignorando o propósito final de tombarem na teia de uma aranha. Muitas noites vejo archotes no castelo, ouço o gargarejo dos bardos, os gritinhos das damas, as gargalhadas sonoras dos duques e do Rei.
Eles festejam o esplendor da sua côrte; os seus bailes devassos e cruéis são a celebração dos seus actos de vileza, o seu modo de se assumirem como Elite, de se provarem ruins. E nessas noites em que os archotes do mal brilham mais do que as estrelas, eu, mesmo estando longe, rio-me com eles; e também danço ao som das suas modas:

Porque enquanto o Rei se ufana com os seus cães, eu vou no escuro tecendo a minha teia…
(Lisboa, 18/05/96)

Minha Incompleta Justificação!


Escrevo para entender este difícil mistério de viver. Escrevo para entender. E continuo sem me conhecer… (Lisboa, 21/07/95)

Thursday, April 19, 2007

O Homem é um Lugar Estranho...

Por todo o lado debates sobre a Génese. São inúteis. Porque não importa verdadeiramente o que houve antes do Homem e como começou o Mundo, ou que Mundo virá depois da espécie da Linguagem ter finalmente deixado sossegada a fatigada face da terra. O que importa de facto, é que o Mundo, como o entendemos, só possui consistência associado à História do Homem, e só agregado a ela tem um valor e um sentido, ganha uma forma e um lugar… Nada houve antes do Homem e nada haverá depois. O vazio anterior ao "Fiat Lux" é, tão só, o vazio da consicência Humana. Onde está nisto o Mistério? (Lisboa, 18/06/99)

Dos astros siderais, caíste inerte e lasso - és um palhaço que leva tudo a sério. ri-te, pois és tal qual os outros animais: carne e osso - onde está nisso o Mistério?

Sunday, April 15, 2007

Do Divino

a) Cristo nasceu dos densos medos dos Homens. Por temerem o imortal desconhecido mistificaram o crucificado em mistério, meio pelo qual um corpo vivo ou inanimado se deifíca e sacraliza. Sacralizar, por seu lado, é dar resposta de lei ao que não tem lei nem resposta e um sentido final e único ao que não é mais do que mero objecto distorcido num símbolo. Cristo foi assim (como outros ícones seus semelhantes) moldado num grande mito de modo a conseguir o poder de tornar acessível o absurdo do mundo e o seu vácuo aos que temem demasiado observar-se e não suportam a ideia de ignorar. O Homem fez-se, deste modo, um deus que se fez rei, um mito sobre o trono de toda a raça Humana. O mito, porém, é insuficiente por si mesmo; e um Senhor, para governar, precisa de súbditos. Que fazer, então, para salvar o mito? Render toda a razão aos caprichos da Fé, deixar a lógica às mãos da estupidez, o juízo privado no algoz do dogma… O preço da explicação sublime do Universo e das coisas foi o perder-se o sentido de Universo e de coisas, o que para o Homem corresponde a abdicar da liberdade individual pelo bem do conforto da sensação de alma, obliterar-se em nome de uma ideia, entregar-se a si mesmo como escravo…
b) Há muito tempo, numa língua antiga que já ninguém fala, Fé do latim fede e do português fede (que reflecte o seu odor nauseabundo) dizia-se: Marg-Ha-Rid-Ha, que veio a resultar no nome próprio Margarida. Eis porque é do Diabo a alma de Fausto…
(Lisboa, 17/05/99)

Meu Pé de Laranja em Lima, em Lisboa, no Mundo... Murchou; Foi um Segundo...

…O Homem Ilustre que come em casa do pobre… «Para onde fugiu a galinha? Zézé, foi você que pegou a galinha? Fernando, foi você que pegou a galinha? Miguel, foi você…?» Na minha casa de menino havia um aviário… Mamãe matava galinhas para servir o Homem Ilustre que ia de visita. O Homem Ilustre era um grande fato sem rosto. Ele adorava frango de cabidela e fazia negócio de escravos na sua fábrica de sabonetes. «Onde pôs você a galinha seu danado?!» «Eu não fui eu, não, nem que eu não vi galinha não por aí!…»
Na minha casa de grande há uma prisão sem grades… Há aviários de homens como de galinhas, há homens que matam como predadores… Uma vez um czar que caçava homens (Drummond) achou crueldade caçar borboletas (Anedota Búlgara)… Homem de Cabidela para os senhores do Mundo… O Homem Ilustre vem almoçar amanhã…
Guerras Antigas, meus romanos, meus persas, guerras modernas, primeiras e segundas, guerras recentes por Diabo e por Deus… Homens perdidos nas fábricas, esmagados na prisão dos dias, nos campos de concentração do quotidiano… Auschwitz não morreu em 1945. Auschwitz não matou apenas os judeus. Auschwitz não fica só em Auschwitz. Na cidade onde eu moro há um lugar tenebroso… Auschwitz sou eu…
A Humanidade é um polvo que se alimenta do sangue dos inocentes… Mas suponhamos que injecto arsénico nas veias e que a Humanidade inteira faria um festim de mim… Que melhor fim para esta vida feia? Que melhor fim?! (Lisboa, 16/05/99)

Saturday, April 14, 2007

E apesar de tudo, ainda o beijo de Judas...

…Falsos amigos que comem na tua casa, que te vestem os fatos, fumam os teus cigarros, passeiam no teu automóvel… Falsos amigos que te usam, que abusam do teu corpo, da tua personalidade infeliz, que te esquecem quando te são necessários, que te querem quando tu estás cansado, que não sabem dos teus anos ou do teu desgosto, mas que estão sempre a par do que tu gastas e de quanto tens para gastar, mas que nunca ignoram quanto valem os sapatos que calças, mas que sabem sempre quando estás em casa! E tu que sabes que nem são bem teus amigos, e que alimentas essa frágil mentira, esse pexisbeque social, porque são eles que te tornam útil… (Lisboa, 16/07/98)

Wednesday, April 11, 2007

Homem:

És plural como o Universo,
E por isso um mistério… (Lisboa, 31/03/98)

Pessoa!,



Ser, mas ser inteiro! (Lisboa, 31/03/98)

Sim, Para Amanhã...


Promessas a ti mesmo e ao Mundo… e quanto mais prometes mais tu falhas… (Lisboa, 13/09/96)

Um Passo Mais Além e Fôra Abismo...

Já não há medo neste precipício… Só rochas lá em baixo, tal como aqui, no pico da falésia. Apenas varia a altura entre o seu espaço e o meu. Passou o tempo em que era um Monstro tudo o que eu não conhecia. Depois dele veio a sede de desvendar os mistérios. Mas o aventureiro foi esventrado pelos seus próprios sonhos. Eu sou o que restou do seu esqueleto. Porque é infinito o Tempo, é infinita a minha paciência. Já não busco mais nada pois nada há para achar. Aqui como ali há vida e pedras alternadamente como em qualquer outra parte. E o haver isso me basta para me ter onde estou. O Sol brinca às escondidas com o Mundo há um sem fim de milénios, e eu fico sentado à beira do penhasco a vê-lo brincar, como quem vigia uma criança para que não se magoe. Tomei gosto neste olhar para as coisas só por olhar para elas, apenas por notar a beleza que têm: Todas as coisas são belas dependendo da luz que se lhes dá. E eu ponho a melhor luz em todas as coisas. É por isso que no cume do abismo eu olho para baixo, contemplando o fim, e penso apenas como é belo e calmo e na paz que eu imagino que ele tem. Quando for altura, uma brisa suave há-de empurrar-me adiante, deixando-me cair como um folha sêca. Mas entretanto pude ver o que era belo na vida, e no fundo já não verei a escuridão… (Lisboa, 01/06/96)

Sunday, April 08, 2007

Musica II - Reinventando Drummond


Uma coisa triste no fundo da sala.
Disseram-me que era Chopin.
- «Encantador» – respondi secamente; e recostei-me...
O meu interlocutor falou então de um desgaste quotidiano,
Vaticinou que esta vida é uma porção de deveres,
Estabeleceu metereologias e furores de dentro e fora da alma,
Relacionou sistemas e culturas com os calabouços do Homem,
Argumentou que as estrelas são simples candeeiros esquecidos pelos deuses
Quando há muitos anos se deitaram para dormir para sempre...

Constatando, enfadado, que eu nada dizia,
Perguntou caçoando o bigode o que eu achava...
Eu considerei as contas que era preciso pagar,
Os passos que era preciso dar,
As dificuldades…
Tudo parecia tão pesado,
Tão complexo,
Tão inútil...
O que havia a dizer?
Assim,
Enquaderei o Chopin na minha tristeza
E adormeci,
Deixando ao homem do sonho a responsabilidade de pagar todas as dívidas
E ao meu aborrecido interlocutor
O copo de gin ainda por beber
Que talvez guardasse essa resposta
Que eu não soube
Não quis,
Não pude dar…

(Lisboa, 2004)

Queixume da Alma Segundo Rimbaud - Original e Tradução

Oisive jeunesse,
À tout asservie,
Par délicatesse
J'ai perdu ma vie…

Juventude alada,
De tudo cativa,
Por ser delicada
Perdi minha vida…

(Lisboa, 19/05/05)

Interpretação da Vida Segundo um Romance de Fiodor Dostoievski

O crime é o castigo. (Lisboa, 09/05/05)

Do Princepezinho (Uma Lembrança)

Sentiste hoje, Miguel, como estás velho. A conversa era trivial como qualquer conversa quotidiana. Depois alguém quis subir-lhe o interesse. Começou-se a falar de livros, dos melhores, dos eternos. "Le Petit Prince" de Saint-Exupéry não podia deixar de ser mencionado. Os que o leram lembraram os melhores momentos; e falaram, é claro, do elefante dentro da jibóia que os adultos, esses cegos confusos que buscam o coração perdido algures no final da infância, não reconheciam. E eu, muito sério, muito atento (como é meu costume), lembrei o desenho com eles. E só vi um chapéu… E sabes tu, meu espelho, qual foi a pior descoberta? Também eu busco o meu coração que está perdido, e nem sequer o sabia… (Lisboa, 11/04/05)

Apontamento sobre Arte e Estética:

É estético o que suscita o desejo. A Estética é a disciplina da voluptuosidade. A Arte é indiscutivel, indubitavelmente adogmática. O dogma que agora estabeleço não está na Arte mas fora dela e é de fora dela que eu o constituo como parte integrante de si. Os frutos da árvore que ela é podem cobrir-se de propósitos universais, mascarar-se, talvez, de Humanitários, podem dar-se, alugar-se, vender-se, apelar às massas. Mas quem os morde e os sente, o sentido que têm ou não têm, o agradável ou repelente que suscitam, o conforto ou o asco, o belo ou o feio, são sempre de um único homem ou o juízo de um particular. Podem até procurar impôr uma apreciação, um valor, promovê-lo no quadro da importância social, dar-lhe estatuto de lei, incuti-lo no padrão social de Bom e de Belo, talvez até (grave ofensa à Arte), de Moral. Mas não podem, aquém da máscara social, controlar a reacção do indivíduo perante aquilo que vê.

Música que ouço em não sei que espaço, eu quero-te no meu quarto, queria, talvez, ter sido eu a compôr-te…
Colunas de não sei que templo, essa imponência apela ao meu desejo de ter-vos como parte material da minha porta…
Quadro de não sei que cores, as minhas paredes brancas pedem-te que as enfeites, que lhes tires a palidez quotidiana…
Mulher, doce mulher, de um qualquer Deus, enche o espaço vazio da minha cama!
Se eu te desejo, tens a toda a Filosofia, toda a Moral, toda a Estética que suporto e até de que preciso!
Se eu te quero, se acordas com força o meu desejo de posse, então, objecto, iguaria, espaço, temperatura, corpo, ar, seja o que fôr, se eu te quero, se eu te tenho amor, és sem dúvida Arte e essêncial!
E eu hei-de ter-te até que enfim me farte, e que voltes, de novo, a ser banal… (Olho Marinho, 09/04/05)

Cosmogonia

Simples partículas de um Misterioso Sistema de Universos em constante movimento: Ecce Homo! O que é nisto o orgulho? (Lisboa, 21/07/96)

Saturday, April 07, 2007

Breve História da Morte de Narciso

Tantos Homens que buscam o rosto de Deus! Mas será que existe esse ideal de bruma? Onde está ele? Onde está ele? Onde está ele?! Porque não nos defende dos horrores do Mundo, dos horrores dos outros, dos horrores de nós próprios?
«É o Demo!, é o Demo!» gritam umas almas mais espantadas… É então o Demo o Senhor dos Vivos… Belo Deus Supremo que só consola os mortos! Convenhamos que é um Deus inteligente: é mais fácil consolar um cadáver…
Sim… Os Homens buscam o rosto de Deus… e eu que finalmente o achei! Ainda lembro exactamente como foi… certa manhã de sol fogoso, em frente ao espelho…
Foi o meu maior pesadelo… Era tão feio! Tão real! Tão acessível! Estava tão perto… Conheci então o horror da responsabilidade…
Porque é tanto o esforço de albergar a divindade em nós!
Foi por isso que Narciso se afundou nas águas: ele não se apaixonou por si mesmo como dizem. Narciso nem era muito belo… Mas certo dia foi ao lago matar a sua sede, pesando no seu coração a dúvida de todos os Homens, e viu o que buscava no lago em que bebia. Pareceu-lhe primeiro um outro, mas percebeu, porfim, que o rosto que contemplava era o seu. Como podia, ò perfídia!, ser possível ser ele mesmo toda a divindade? Como suportar agora a obrigação sublime de sempre agir bem, de ser Perfeito, de ser Justo, de ser Bom? Onde cabia nesta descoberta a segurança, o alívio, o repouso do erro?
E foi então que, embrenhado no desespero desta verdade inflexível, e incapaz de se submeter à alienação das crenças, Narciso contemplou uma vez mais o seu rosto, e, com uma expressão de assombro e ódio inconsumível, mergulhou furioso no cemitério das águas… (Lisboa, 28/05/96)

Sunday, April 01, 2007

Reinterpretações Filosóficas - Das Escolas Antigas

O Estoicismo pretende ensinar a Morte por entender que viver é, por excesso, banal. Assim sendo, viver prova-se apenas necessário para que uma boa morte se demonstre viável… (Lisboa, 27/03/98)

"Um Pouco Mais de Azul - Eu Era Além..."

Eu vivi na antecâmara do Bom, com as mãos tocando o quase do sucesso; mas o meu fim foi o do mísero farsante que mendigou nos palácios da Fortuna e apodreceu na escuridão dos becos. Fui um pouco, assim, como o corsário afogado que lutou desvairado contra os furores das águas, roçando sempre os dedos nos ramos do arbusto que o levaria enfim à segurança da margem. "Para atingir, faltou-me um golpe d'asa"... (Lisboa, 16/01/98)